E viva a tecnologia!

17 de abril de 2015
Dia desses, enquanto lia as inutilidades do Facebook, uma pessoa comentou que estava sozinha em um bar e, surpreendentemente, parecia muito mais feliz que o casal ao lado, pois homem e mulher entretinham-se com as suas vidas dentro do mundo virtual. Aquela informação de nova não tinha nada. Perdi as vezes nas quais as pessoas pareciam um bando de autistas, presas em seus mundinhos, esquecendo completamente como se faz para interagir na sociedade real. 
Em contrapartida, comecei a ler Fahrenheit 451, de Ray Bradubury, uma distopia que aborda os rumos fúteis e imediatistas nos quais a sociedade vive no futuro. As casas tornaram-se resistentes ao fogo. Os bombeiros têm a missão de queimar livros. As pessoas entretem-se através de meios de comunicação de última geração, os mesmos que as induz a ver e consumir material de seu interesse. 

E o que os dois parágrafos acima têm em comum? Pois bem, queridos: Atualmente a televisão, cinema, música e a própria Internet regem as nossas vidas. É a novela que dita o corte de cabelo da moda. É o filme que dita a roupa ideal para homens e mulheres. É o hit do momento que nos obriga a apreciá-lo, grudando em nossas mentes fracas. É o maldito aplicativo da semana que nos informa o que está em alta na Internet e o que já foi deixado de lado. 

Na obra de Bradubury, foi o próprio homem que decidiu abdicar da leitura. As pessoas não queriam pensar. Elas queriam se divertir. Para quê colocar o cérebro para funcionar? A vida já tá tão corrida, tão estressante, com tantos problemas, de que adianta continuar quebrando a cabeça? Para quê se encantar com um romance, ou até mesmo sonhar com a fantasia longínqua? Pois é, esconder-se atrás de monitores, em programas que transitam livremente no tempo e espaço, isso sim nos dá a sensação de viver a vida intensamente. Espera um minuto: Nós de fato vivemos nesse mundo paralelo?

Semana passada saí com um amigo. Há mais de seis meses não nos víamos. E, para ser bem honesta, acho que jamais conversamos tão verdadeiramente quanto naquela terça-feira. Conforme transcorria a noite, em momento algum tive interesse de pegar meu telefone e xereta o mundo virtual. Francamente! Eu já passo tanto tempo conectada a este mundo, procurando tantas coisas para o meu projeto, escrevendo capítulo atrás de capítulo, tarefas para o curso de escrita… Por que deveria dividir aquele momento especial ao lado de alguém que é importante para mim com um bando de coisas que já conheço tão bem? Não. As pessoas precisam parar com esse vício! Todos nós devemos evitar esses malditos aparelhos por algumas horas do nosso dia. 

Em Fahrenheit 451, todas as casas são equipadas com um “Salão da Família”. Isso, nada mais é, do que monitores ligados, mídia sendo bombardeada dia e noite. Lá, os “parentes" conversam com você, te deixam entretido e, ao passar das horas, você nem ao menos sabe o que está fazendo. Aquilo serve exclusivamente para a diversão. Aí, você que sai com seus amiguinhos tecnológicos, como agem em público? Será mesmo que estão vivendo o aqui e o agora? Ou estão corporalmente inseridos no meio, com a atenção voltada à Internet? Quantos de nós já se sentou em uma mesa, com um bando de gente e, após 5 minutos cada um pegou seu smartphone e ficou teclando, curtindo, favoritando, comentando ou criando um novo post? Quantos disseram estar no lugar “X" com pessoa “W”, “Y” e “Z”, dando a ideia de que a animação rolava solta mas, se tirasse os olhos da tela do celular, enxergaria um bando de desconhecidos, presos em suas bolhas gigantes? Por Deus! Em que mundo estamos?


Ainda não tivemos a ideia absurda de pegar um livro e vê-lo queimar. Já vimos grandes obras sendo resumidas. Vimos clássicos sendo reescritos com a desculpa de facilitar a linguagem e entendimento do leitor. Como aceitam uma coisa dessas? Porém, quanto mais leio Fahrenheit 451, mais me espanto com a atual situação do mundo. Como as escolas tornaram-se verdadeiros limbos. Como a educação tem sido negligenciada. Quantos professores de fato gostam de lecionar? Quantos querem tornar crianças em adultos conscientes? Quantos meninos e meninas enxergam a escola como a porta para o futuro brilhante? Não, pessoal. Crianças querem atenção. Crianças querem aparecer na Tv, na Internet. Querem seus 5 minutos de fama no Youtube e ganhar muito dinheiro. Não importa se fazem papel de babacas, ou burros. Foda-se! Nós queremos nos divertir! Afinal de contas, pensar dá trabalho. E, sinceramente, de trabalho já nos basta o monte de problemas que a vida nos regala no dia-a-dia. 


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