Resenha ==> 1 Litro de Lágrimas

23 de março de 2015

Não tem problema levar um tombo.Basta levantar de novo.Aproveite o tombo e olhe para o céu.Hoje também o céu azul se estende sobre você.Pode vê-lo sorrir para você, não é?Você está viva. Aya Kito - 1 Litro de Lágrimas 

Ser adolescente nunca é fácil. Você não é criança e também não é adulto. As pessoas ao seu redor estão tão confusas quanto você. O que parece algo corriqueiro e de simples resolução torna-se, em menos de 10 segundos, o maior dentre todos os problemas. O garoto por quem você está apaixonada não nota a sua existência. Suas amigas são as únicas que te compreendem. Agora, imagina você descobrir que sua vida mudará por completo devido à uma doença incurável? Imagina dar-se conta de que seus planos para o futuro podem simplesmente não se realizar. Imagina deixar de andar, falar, comer e viver como um vegetal em cima de um leito de hospital. Imaginou? Pois é, viver esse pesadelos é o mesmo que assistir à vida te mostrando que você nada significa.
Aya Kito, uma adolescente japonesa de 14 anos descobriu que passaria anos de sua vida sofrendo provações duras. A menina, que até então se achava desajeitada por levar diversos tombos, certa vez foi levada ao Hospital Universitário de Nagoya após uma queda feia que abriu o seu queixo.  A jovem realizou diversos exames até que finalmente seu diagnóstico foi levantado. Aya sofria de Degeneração Espinocerebelar.
A Degeneração Espinocerebelar é uma doença progressiva e rara. Estima-se que de cada 100.000 pessoas, 4 ou 5 são afetadas por essa doença. A deficiência consiste em uma patologia na qual as células nervosas do cerebelo, tronco cerebral e a medula espinhal são destruídas lentamente. Contudo, o que torna a Degeneração tão dura é o fato de que o paciente, mesmo perdendo todos os seus movimentos musculares, ainda permanece consciente, sabendo exatamente o que está lhe ocorrendo. 
Assim que descobriu esta implacável doença, foi solicitado para que Aya passasse a escrever um diário com o intuito de explicar tudo o que ocorria com ela. Desde os passos que tornavam-se cada vez mais lentos, até a completa incapacidade de colocar-se de pé. Todavia, o que realmente tornou o ocorrido algo tão surpreendente tenha sido a forma na qual a adolescente expressava-se, sempre tão emocionante e tão cheia de força. 
Coloquei a mão no peito. Posso sentir o palpitar.Meu coração está funcionando. Que felicidade.Sim, eu estou viva. Aya Kito – 1 Litro de Lágrimas.


Como a história de Aya ocorreu entre os anos 70 e 80, pouco ainda se sabia a respeito dessa doença devastadora. Por mais que a medicina tenha avançado, nada sabia-se a respeito dos males que o cérebro humano podia sofrer. O Japão não era o pioneiro no desenvolvimento de uma cura para este mal. A enfermidade sempre muito rara não dava tempo suficiente para que o paciente fosse de fato estudado, muito menos encontrasse uma cura para o mesmo.
Os relatos de Aya foram somente possíveis graças à sua mãe, quem enxergou em seus diários palavras de coragem, esforço, luta e garra. A progenitora acreditou que as palavras de sua filha serviriam para que outras pessoas, mesmo aquelas que não possuíssem essa doença tão terrível, adquirissem forças para seguir adiante, pelas mais diversas adversidades que possuíssem.
De livro à série.


Foi apenas em 2005 que a história de Aya Kito foi transportada para a televisão. O diretor Murakami Masanori baseou-se nos diários da adolescente japonesa para criar um dos dramas mais emocionantes que já vi em minha vida. 
Não sei se foi por eu ter visto o seriado primeiro e depois ter lido o livro, mas a serie é realmente impactante. O diretor mudou diversas coisas, originando uma outra Aya, em uma outra época, vivendo situações que a mesma não vivenciou e, mesmo assim, seus dias passaram-se de modo tão doloroso, quanto aqueles relatados na obra literária. 
No livro a menina Kito lamentava-se com freqüência de suas limitações, apesar de sempre escrever que encontraria forças para “não perder para a doença”.  No seriado, a mesma Aya reclama de seu estado limitado, todavia, ela é persistente, indo além das expectativas, disposta a dar-se a chance de viver, mesmo que de maneira tão sofrível. 
Sei que há pessoas que não gostam de dramas e que se sentem péssimas com esse gênero. Mas, acredite, são a partir desses mesmos dramas que crescemos como ser humano. Assista ao seriado e passe a viver a vida com outros olhos. Muitos dos nossos problemas são de fáceis resoluções. Dinheiro consegue-se com esforço. A perda de um namorado pode ser dolorosa a princípio, mas a vida trata de mostrar que outras pessoas passarão por nossos caminhos e nos farão felizes. Todavia, doenças tão chocantes e dolorosas quanto a de Aya Kitp não pode ser resolvida, mesmo nos dias atuais. Por mais que já saibamos que a Degeneração Espinocerebelar é transmitida a partir dos genes hereditários, ainda não temos conhecimento como tratá-lo de maneira adequada e, sobretudo, como inverter esse quadro lastimável. 

Um comentário

  1. Ainda não li o livro, mas vi a série e chorei demais! Ah, fiquei triste ao saber de mudanças da obra pra telinha, mas isso é comum... :/
    Beijão, Min - http://www.yasminbueno.com/

    ResponderExcluir