Ecos dos muitos reflexos

28 de agosto de 2015
Redes sociais é uma coisa complicada. Um bando de gente na sua timeline, postando cada uma seu ponto de vista com relação ao mundo, esperando que a sua verdade seja a única. O problema já começa em utilizarmos a Internet como a nossa extensão corporal e mental. Estendemos nossa realidade ao mundo tecnológico. Criamos uma segunda realidade na qual somos seres encantadores, de imagens apreciadas, donos de uma verdade inquestionável.

Hoje de manhã assisti a um vídeo de uma garota questionando sua insatisfação com relação à sua aparência. Como o fato de ela ter se arrumado com o seu cosplay e postado suas fotos fizeram com que os caras da sua página começassem a chamá-la de gostosa e a verem simplesmente como objeto sexual. Sim, isso é nojento. Mas, rede social é uma coisa complicada. A gente nunca sabe quem vai ter acesso ao nosso perfil ou, se sabemos, não conhecemos a pessoa muito bem. E, pelo o que eu entendi, uma das frustrações dessa menina deve-se ao fato dela conhecer esses mesmo meninos. Mas, sério mesmo que conhecemos as pessoas? Tirando a família e a melhor amiga, há mais alguém que mantém o livro aberto? De qualquer forma, imagino que deve ter sido no mínimo frustrante ter recebido esse tipo de cantada exdrúxula de alguém no mínimo querido ou considerado. Porque, de verdade, você conhecer essa pessoa e a mesma só te notar de cosplay deve ter doído. Eu teria ficado muito mal e acho muito compreensível ficar de cabeça quente por conta disso.

Só que o mais estranho foi o questionamento da garota com relação à aparência. Como ninguém a percebe de moletom, mas reparam nela com o cosplay. E aí foi a parte que deu tudo errado. Porque, pra quem não sabe, eu sou o tipo de pessoa que questiona, que gosta de incitar a discussão no sentido de fazer a pessoa pensar, refletir. Só que não adianta, rede social é uma merda! E eu nunca aprendo a ficar de bico fechado. Adivinha: a menina simplesmente fez um post gigantesco revoltada comigo. E olha que eu fui conversar em off com ela pra tentar resolver a coisa. Adiantou? Claro que não. Eu já tinha desmistificando a imagem dela de vítima da sociedade contemporânea.

Quando questionamos beleza o termo é muito subjetivo. O meu belo não é o mesmo da minha melhor amiga, assim como não será o mesmo da minha mãe. Quando falamos em imagem há uma série e fatores nelas engajadas. Publicitários são os que mais entendem sobre transmitir mensagens através da imagem. A garota em questão foi questionar o ocorrido toda produzida. Achei um tanto quanto pertinente e ao mesmo tempo provocador. Pertinente porque é fato que ela se arrumando terá mais atenção. Porque gente, vamos combinar, por mais que odiemos falar isso, a imagem conta em diferentes segmentos, inclusive em um vídeo no Youtube, quando você quer ser ouvida. E, de verdade, por mim tudo bem. Acho muito válido. Só que quando você questiona no mesmo vídeo que se sente incomodada das outras pessoas não te enxergarem quando você tá de moletom, fazendo um vídeo toda produzida, isso não soa de certo modo provocador? Eu entendi sim o propósito, só não sei se de fato ele era necessário. Para os que se interessarem, a menina odiou essa minha questão levantada. Mas essa eu deixei passar porque eu ainda não sei o que me deixou balançada. Acho que um sociólogo ou antropólogo me fariam enxergar o problema nisso tudo.

O que irritou de verdade a menina foi a provocação que soltei. E sim, eu ainda tô pensando nisso porque a coisa toda é uma loucura. Quando questionamos o fato de sermos invisíveis perante o outro ao estarmos vestidas de maneira simplória, isso é de certo modo revoltante. Só que nós, mesmo que não percebamos, fazemos o mesmo no cotidiano. Por exemplo: Vamos pedir uma informação a um estranho. A qual das opções vamos nos aproximar: O cara bem vestido, ou aquele desleixado? Qual imagem mais nos atrai, mais nos passa confiança? Outro exemplo: Você e um amigo estão interessados um no outro, só que a relação de vocês a princípio ocorre só no mundo virtual. Então, certo dia, vocês decidem se encontrar. E, por mais que vocês conversem, a primeira coisa que você pensa é: Será que ele me achará bonita? Porque todos nós sabemos que com a Internet e toda a tecnologia, nós temos os truques de fazer tudo parecer perfeito em uma tela de computador. O real está lá fora. E com esse pensamento simplesmente nos surge na mente que precisamos nos embelezar para que o outro queira permanecer ao nosso lado, uma hora ao menos. E querem mesmo saber a verdade? A coisa funciona. Por 10 minutos a imagem vai funcionar. Só que as pessoas esquecem de que passado o período de reconhecimento, o que vai contar de verdade será a conversa, os pensamentos, o diálogo. O que vai importar será quem somos realmente. E aí, meu amor, se você não ter atitude, você pode ser a Angelina Jolie, que o cara só vai te enxergar como objeto sexual. E olha, tem muita mulher que comete o mesmo ato de enxergar caras bonitos, sem conteúdo, como reles marionetes do sexo selvagem.

O que deixou a menina do video muito irritada comigo, foi justamente eu ter dito que é hipócrita nós, todos nós, exigirmos sermos vistos mesmo quando estamos de moletom, quando não fazemos o mesmo com a pessoa ao lado. Quem se sente bem ao lado de um mendigo? Quem, quer conversar ou pedir informação pra um pedinte? É hipocrisia exigirmos coisas que nós mesmos não cumprimos. Não somos vítimas do sistema porque nós realizamos o mesmo feito, seja ele bom ou ruim. Infelizmente, a garota fez um escândalo porque entendeu que eu a chamei de hipócrita quando, na realidade, eu disse que exigir da sociedade algo que nós mesmos fazemos, não soa coerente. É hipócrita uma sociedade querer mudar algo a qual ela mesma corrompe diariamente. E eu não falei da vlogueira em questão, falei no geral. Falei até mesmo de mim. Eu mesma cometo erros ao apontar pro outro algo que eu mesma realizo. O que é inadmissível, é exigirmos mudanças sem que sejamos nós os primeiros a praticá-las.

Eu entendo que seria muito legal se o cara bonitinho olhasse pra menina mal vestida e se apaixonasse. Seria lindo se isso ocorresse na vida real. Mas, espera aí, até a Cinderela sentiu isso na pele. O príncipe só a notou quando a viu toda produzida no baile. Eles se apaixonou pela imagem deslumbrante e não pela garota que de fato estava com ele. E é isso que as pessoas não entendem. Infelizmente, seja na escola, faculdade ou até mesmo no trabalho, nós precisamos da boa imagem. É com ela que assinaremos milionários contratos, que apresentaremos a tese de doutorado, ou iremos ao nosso primeiro encontro de vários, com o cara que gostamos. Se não há esse interesse em se produzir, em se cuidar, a sociedade compreende que somos pessoas desinteressadas na vida, logo em nós mesmos.


Okay, eu sei que isso soa muito ruim e até dolorido, mas eu passei por isso e sei como é ruim. Mas sei como melhorar sem deixar de ser eu mesma. E, posso dizer uma coisa: Essa coisa de mulher produzida ser ótima na cama é ridículo! Há uma gama de mulheres lindas que são muito inteligentes, muito profissionais, competentes e repletas de discernimentos. Garotas, é muito bom ter a autoestima lá em cima. Por que o namorado não pode te achar gostosa e ao mesmo tempo culta? Por que toda garota sabichona precisa ter o estereótipo dos óculos fundo de garrafa, cabelos bagunçados e aparência mau cuidada? Vamos parar de estereotipar os outros. Mas, não vamos ignorar que a nossa aparência as vezes precisa de cuidados. E que é normal alguém te olhar diferente quando você tá arrumado porque simplesmente é algo que raramente você faz. Isso não é um problema. Claro que você continua com todo o direito do mundo de querer sair de casa com aquele casaco desbotado, ou aquela calça gasta. Só não espere que o menino que você acha uma graça enxergue mais do que você o permite ver. A graça da produção é abrir portas para o outro e o deixar curioso pra saber quem de fato você é.

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