Vou te dizer uma coisa: Colocar tudo a perder por conta de um medo idiota é a maior dentre todas as burradas já cometidas pelo homem.
Ele trocou a faixa pela terceira vez consecutiva. Aquela música tinha um significado e jamais poderia ser usada com outra pessoa. Não, muito menos com a garota loira ao seu lado. Quando tudo mudou? Quando ele decidiu ir contra o seu desejo e esquecer a menina ruiva? "Não quero esquecê-la. Quero manter o que construímos em dois anos e meio.". Mas, o que são todos esses anos se compararmos com esta nova e errônea etapa? Será mesmo que você já não estragou tudo ao colocar entre vocês esta completa estranha?
A mão direita correu até o mp3 player. Merda! Aquela maldita seleção de músicas estava acabando com a sua noite. E, pelo o que tudo indicava, com as horas da mulher ao seu lado também.
-Te proíbo de mexer nesse botão, Nicholas!
As unhas compridas e vermelhas arranharam levemente a mão trêmula. Ele precisava se controlar. Precisava deixar claro que aqueles foram momentos, foram dias longínquos que não poderiam voltar.
Estacionou o carro. Pegou o celular. "Desce, tô te esperando.". Que idiota! Por que colocou isso na mensagem? Por que fez parecer estar sozinho quando, no final das contas, há mais alguém te fazendo companhia?
Antes de largar o smartphone, Nicholas recebeu uma notificação. Inferno! Esquecera completamente que ainda a seguia nas redes sociais, não é mesmo?
Clicou sobre o alerta e sentiu quando parou de respirar. Seu corpo enrijeceu. Ele quis sair correndo. Quis largar a garota ao seu lado e ir bater à porta da ruiva sexy da foto. Começou a ler os comentários. Espera aí. O chefe de Isabella lhe soltara uma cantada? "Nicholas, seu maldito filho da puta! O que foi que você fez?". Mas agora já era tarde. O erro fora cometido e já não havia absolvição.
Ele estava furioso. Estava frustrado. Largou o aparelho celular sobre o painel do carro. Olhou para a loira de saia curta e tudo o que desejou foi esquecer a burrada que cometera. Tirou o cinto de segurança que o prendia, viu quando Nicole fez o mesmo. Ele a agarrou dois segundos depois, grudando seus lábios aos dela, como se precisasse daquela respiração boca-a-boca para conseguir fazer o ar chegar até os seus pulmões. As mãos correram pelas coxas da garota bronzeada. Ele gostava de fazê-la abrir as pernas. Era bom quando ela gemia baixinho porque ele imaginava Isabella em seus pensamentos, em suas fantasias.
O ar estava rarefeito. Os vidros embaçados não lhe permitiam ver além daquela cena deplorável de desejo. Afastou-se por alguns segundos para descer os vidros. Os dezesseis graus mais pareciam temperatura amena de uma primavera que tardaria a chegar em meio ao inverno obscuro de sua alma. Nicholas tornou a beijar os lábios finos e sem sal. "Vamos, seu idiota! Imagina que é Isabella à sua frente!". Resolveu o problema. As bocas voltaram a grudar como cola.
Quando finalmente seu peito encontrava-se saturado demais, exageradamente banhado de oxigênio, seu corpo deu um estalo e ele precisou se afastar mais uma vez da loira agora com os cabelos bagunçados. Entretanto, antes tivesse permanecido aos beijos fingidos. O coração doeu ao avistar a ruiva com aquele maldito vestido provocante.
-Oi, isabella!
Filho de uma puta! Você vê a garota dos seus sonhos assistindo você dando uns amassos na vadia ao seu lado e tudo o que faz é dizer um estupido "oi"? É por isso que as coisas nunca dão certo!
-Venha, Isah, ou vamos chegar atrasados à festa da Valentina.
Isso garanhão. Nada como mudar o foco da conversa.
Nicholas olhou para o espelho enquanto retirava o carro da vaga que estacionara minutos atrás. Os olhos castanhos do garoto cruzaram com o par de esmeraldas que o fitavam tristemente. Ele sentiu a garganta secar. Algo estranho formava-se em sua garganta. Será que aquilo era culpa? Mas culpa do quê? Por que sentia-se dessa maneira? Isabella era sua amiga, apenas sua amiga. Sua melhor amiga.
-Finalmente a minha melhor amiga e o amor da minha vida juntas. Sei o quanto vocês se darão bem.
Ele precisou dizer aquelas palavras. Ele sentiu a necessidade de afirmar não apenas para si, mas para a garota ao seu lado, de que a menina no banco de trás um dia fora alguém especial. Alguém que a partir daquele instante não deveria significar mais nada.
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