Vamos falar sobre os malditos 50 tons

Que fique claro, antes de tudo, que relutei muito em escrever este post. Relutei, porque um único comentário que fiz, em minha página do Facebook, rendeu um número gigantesco de comentários. Que quem chegar a este meu blog compreenda, acima de tudo, que esta é a MINHA OPINIÃO. Não se trata de certo ou errado, apenas aquilo em que eu acredito, nada mais. Que você possa entender que tudo o que irei comentar tem como cunho não alertar, mas tentar entender o que está acontecendo com as pessoas e seus conceitos mutantes dentro de uma sociedade manipulável pela mídia. Em momento algum tive o intuito de atingir alguém com o meu parecer. Todavia, se quem ler este texto sentir-se ofendido, de verdade, sinto muito. talvez isto prove que nossos conceitos de realidade são completamente diferentes, nada mais. 

Eu, como a maioria das pessoas, fui uma das que decidiu ir à uma sessão de cinema. Fui com uma amiga que havia lido a trilogia de Cinquenta Tons de Cinza, da autora E.L. James e, como a maioria das pessoas, estava curiosa a respeito do enredo. Admito: tentei ler a primeira obra e, para ser honesta, simplesmente não consegui ler a maioria das páginas. E, quando fui ao cinema, eu realmente tinha a esperança de enxergar algo que me fizesse entender o que todas as mulheres enxergam nesse tal Sr. Grey. E, acredite, continuo sem entender a fascinação que ele exerce pelas mulheres. Sei lá, vai ver que é todo o seu dinheiro e como ele manipula o assunto violência contra a mulher de uma forma capitalista opressora e mascarada até o final da película. 

Sinopse: Anastasia Steele (Dakota Johnson) é uma estudante de literatura de 21 anos, recatada e virgem. Uma dia ela deve entrevistar para o jornal da faculdade o poderoso magnata Christian Grey (Jamie Dornan). Nasce uma complexa relação entre ambos: com a descoberta amorosa e sexual, Anastasia conhece os prazeres do sadomasoquismo, tornando-se o objeto de submissão do sádico Grey. Fonte: Adoro Cinema.

O problema, ao meu entender, não se trata do sadomasoquismo. Alguém já leu a respeito e sabe como ele funciona? Casais fazem isso o tempo todo, mas tudo em completo acordo. Eles se revesam em suas fantasias sexuais e tudo o que almejam é o prazer do companheiro, além do seu. Não há exageros extremos, não existe uma única pessoa no poder, em meio à relação. Há cumplicidade e limites. O casal, para chegar a este nível saudável de relação íntima, precisa conhecer um ao outro profundamente e ter certeza de que é o que ambos desejam.

Pois bem, e aí temos um filme no qual uma garota de vinte e poucos anos é a inocente menina virgem. O problema, de verdade, não é ela ser virgem ainda aos vinte e um. Conheço meninas que optaram por esperar pelo sexo até estarem casadas então, na boa, tá tudo bem. Mas, puxa vida! Nós que já tivemos a primeira experiência, nós mulheres que sempre sonhamos com esse momento, JAMAIS desejamos alguém como o Sr. Grey. Quantas de nós se assustaria se o cara com que estamos saindo soltasse: : “Eu não faço amor. Eu fodo.”? Sou apenas eu que permaneceria chocada? Duvido muito. A primeira vez de uma mulher precisa ser respeitada, precisa ser delicada porque, e vamos ser sinceras, só nós sabemos como a coisa funciona quando o cara “manda ver”. Porque, por mais adorável que ele seja, por mais doce e carinhoso que ele se mostre nas pré-eliminares, a primeira vez vai doer. E, acredite, as próximas no começo ainda não serão indolor, dependendo de uma série de fatores. O que sabemos, é que para o homem é muito mais confortável. 

O que de verdade me incomoda no filme são os pequenos, porém importantes detalhes que acontecem em meio à trama, se é que eu posso dizer que há uma trama nessa palhaçada toda. Christian Grey deixa claro, desde o início que ele não se envolve emocionalmente com as mulheres. Ele mesmo se denomina uma pessoa fria. E, como todo clichê, e esse nem é o pior nisso tudo, ele se sente muito atraído pela garota virgem, a Ana. E, sabendo que ele tem muito dinheiro, o empresário podre de rico decide começar a comprar pela atenção da jovem, regalando-lhe roupas, computador e até mesmo um carro. E tudo isso para quê? Para que ele possa levá-la para a cama. Desculpa se agora serei grosseira, mas isso na minha percepção da realidade chama-se: Prostituta de Luxo. E aí, eu sei. Sei que muitas de vocês dirão que o Christian acaba virando um cara romântico e que no começo ele é cheio dos problemas e tudo o mais. Mas, gente, pode parar! Eu vi um cara completamente desequilibrado, totalmente psicótico e que por ter sofrido sexualmente acha válido fazer o mesmo com as mulheres que ele leva para a cama. Por favor, o que tá acontecendo com esse bando de mulher que caí de quatro por esse tipo de cara? 

Eu então serei prepotente e darei a chance de lhes apresentar uma outra realidade, de um mesmo Sr. Grey, caso o transportássemos para o mundo real. Suponhamos que ele fosse um cara normal, vivendo uma vida normal. Sem regalias, com pouco dinheiro. Uma esposa bonita e que o ajuda a esquecer todo tipo de merda quando a utiliza como objeto. Quando ele chega bêbado em casa porque teve um dia terrível no trabalho. Como quando ele esbofeteia a mulher sem motivo aparente, só porque estava irritado, zangado com o mundo. O mesmo cara que não faz um acordo, em um contrato. Ele simplesmente decide que passará a violentá-la, a feri-la sempre que tiver vontade. Porque, se no trabalho está dando tudo errado, ao menos dentro de casa as coisas precisam acontecer como ele quer que aconteçam. E a mulher nisso tudo onde fica? Pois bem, deixa eu contar uma coisa pra vocês. Meu projeto literário trata justamente sobre isso: mulheres que tornam-se omissas dentro de sua própria casa. Mulheres simples que não tem coragem de ir até a delegacia denunciar o marido. Motivo? Há uma série deles: dependência econômica, psicológico abalado e, acredite, até mesmo amor. Sim, o mesmo tipo de amor que supostamente a Anastasia tem pelo Christian. Mas, a diferença, é que quanto mais culta a mulher,menos tolerância por esse tipo de comportamento ela tem. Portanto, acredite, alguém como a Ana do filme-livro, jamais aceitaria uma relação sem amor, sem prazer. 

Agora, vamos falar de algo EXTREMAMENTE IMPORTANTE: CLASSIFICAÇÃO 16 ANOS. Você acha isso certo? Acha correto uma classificação como essa? Todo mundo sabe como funciona a mente da maioria das adolescentes? Todas sonhadoras demais, românticas demais e que estão ainda nesse processo de amadurecimento sexual. As cenas podem ter sido manipuladas para não mostrar explicitamente o que acontece na intimidade do casal. Mas, as cenas dentro daquele quarto de brincar do Christian dão a idéia macabra de que a mulher é um mero joguete, nada mais. E, nem preciso ao menos mencionar a última cena dentro daquele cômodo, não é mesmo? Extremamente forte e pesado. Eu, uma mulher de 31 anos, fiquei escandalizada. E nem venha você me dizer que estou velha para entender certas coisas, porque eu parto do princípio de que: Se meus pais jamais levantaram a mão para cima de mim, por que eu deveria aceitar que um homem fizesse esse tipo de coisa comigo? Como uma mulher pode se prestar a este tipo de atenção? Carência afetiva? Falta de amor próprio? Acha que nunca encontrará alguém melhor e que qualquer porcaria tá mais do que justo? De verdade, eu não entendo. 

Mais uma vez, eu respeito se você que está lendo este post adorou esta trilogia e amou ainda mais o filme. Você deve ter tido os seus motivos e eu adoraria saber quais são. Basta você me deixar um comentário embasando a sua opinião. Ficarei muito contente com as suas palavras. Mas, não me leve a mau quando eu digo que ainda considero esse tipo de entretenimento assustador. Porque, para ser honesta, eu ainda acho que a sociedade tem distorcido valores e crenças e o mundo tem girado tão rapidamente, que ninguém mais sabe qual caminho tomar. Peço desculpas, mas é isto que eu penso a respeito e não vou mudar meus valores porque Hollywood decidiu que quer que as coisas passem a ser vistas. Eu ainda tenho meus conceitos e não os mudarei diante deste cenário petrificante.