Contos: O Céu de Lilly + O Dia Em Que A Inspiração Apareceu + A quem possa interessar

9 de fevereiro de 2016



A quem possa interessar

O vaso com petúnias faz a mente divagar. As recordações passeiam livremente, revivendo momentos divertidos, tornando a sentir aquelas sensações que outrora jurávamos inesquecíveis. São flashs ligeiros, como o acender e apagar de luzes, enquanto a tela branca recebe cores e imagens contínuas, em grande velocidade. Eram risos, segredos à madrugada. Quando foi que tudo acabou? Quando deixamos de observar e admirar o desabrochar das flores?
Impossível mesurar as transformações. Elas ocorreram, isso não há como negar. Os dias ensinaram novos conhecimentos, novas emoções, novos meios para encarar as adversidades. O que nunca foi planejado, foi o imenso trator que soterrou as palavras não ditas, os sentimentos sinceros, as falhas mascaradas. O que restaram foram mágoas. Rancor do que fora desconstruído, de arranha-céus postos abaixo com um simples soprar de vento. A desconfiança tomou o lugar da cumplicidade, assim como dos juramentos eternos de amizade. Como fomos mudar tão rápido?

As pessoas possuem seu próprio tempo. Ainda assim, o mundo não espera por elas. E nós, reles mortais tão repletos de equívocos, deveríamos compreender a estranheza do outro, o pavor do irmão ao nosso lado, a ignorância de quem cisma em permanecer no mesmo lugar, Só que a vida é implacável. Ela não nos estreita em um abraço. Ela não nos pega pela mão e não nos convida para beber uma cerveja gelada, em uma mesa de bar. Imagina só, quem dera poder se sentar em um balcão puído, ao lado daquela presença impiedosa, enquanto nos queixamos de suas imposições impraticáveis. Seria ainda mais esquisito, se a mesma nos compreendesse, nos sorrisse e disse: “Tudo bem, vou te dar o tempo que você tanto roga necessitar.”.

Os meses passam, os anos correm. Não há tempo, não como o merecemos. Cada vez mais o mundo nos obriga a crescer. Afinal, um dia estamos entorno dos nossos familiares, no outro, encontramo-nos sozinhos, acompanhados de um presente que ri da nossa falta de planejamento.

Apavorados somos meros desconhecidos. Somos animais famintos por familiaridade, por um ombro amigo, por um auxílio que nunca há de chegar. Vestimos uma armadura pesada, daquelas que gruda em nossos corpos, incapaz de ser retirada. Armamo-nos de palavras ferinas, mentiras violentas e as disparamos sem que possamos medir as consequências. Irônico, não é mesmo? Ninguém pensa nos desfechos que as palavras podem causar aos seus ouvintes. A frase simplesmente é ouvida e basta que a escutemos para que ganhe sentido. O que não recordamos, é que cada um enxerga o mundo de uma maneira única e, uma mesma sentença pode significar uma série de ideias, muitas vezes verdadeiras munições pesadas, daquelas que dilaceram o coração de seu oponente.

Acredite, dói ser ferido. Todavia, é ainda mais doloroso se ver só, parado no mesmo lugar, de dez anos atrás, enquanto aqueles que magoou no passado caminham com as feridas já cicatrizadas, em direção aos sonhos prestes a serem realizados.

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