A falta do pensamento humano dentro das obras jovem adulto.

18 de janeiro de 2015

Desde que comecei a escrever o meu Projeto tenho questionado a maioria dos livros. Mas, não faço isso por maldade, muito menos porque soo presunçosa. Nada disso, pelo contrário, tenho refletido muito sobre o que faz um livro Jovem Adulto tornar-se bestseller .
Nos últimos meses tenho lido enredos que me colocaram em xeque. Li 3 livros da autora Rainbow Rowell; Atachments, Fangirl e Eleanor e Park. Li também o livro que todo mundo não parava de comentar Se Eu Ficar, da Gayle Forman. 
Quero que entendam, antes de mais anda, que não sou a dona da verdade. A minha opinião é exclusivamente minha e, caso você não concorde com ela, não vou ficar ofendida. Ao contrário, adoro quando as pessoas sabem argumentar e mostrar suas opiniões de maneira educada. 

Pois bem, eu tenho lido muita coisa Jovem Adulta justamente porque o enfoque do meu projeto é para esse tipo de leitor. Eu deduzo que essa faixa etária seja inflamada, pensante e perspicaz. Que não aceita o enredo como algo verdadeiro e único, mas como um material que a impulsione a pensar a respeito. Esse público também já possui uma bagagem maior, como leitor. Logo, eu acredito seriamente que essas pessoas já tenham compreendido o que torna um personagem bom, assim como seu enredo. Entretanto, conforme tentava compreender o que tanto tornava as duas autoras acima citadas como novos ícones literários, sinceramente, me fez ficar muito amedrontada. 

Quando li Se Eu Ficar imaginei algo completamente diferente do que me foi apresentado. Não estou aqui para resenhar a obra. Estou aqui para desenvolver uma linha de raciocínio. Mia entra em coma após um acidente de carro que leva seus pais à morte. Seu irmãozinho é hospitalizado e está em um quadro gravíssimo. A adolescente sabe que está em coma e tem 24 horas para decidir se sai do sono profundo ou se parte desta pra melhor. O problema é que começamos a conhecer a Mia e tudo o que para ela soa como um grande problema existencial: musicista talentosa, apreciadora de música erudita, com pais apreciadores de rock. Isso, na cabeça da Mia é um enorme problema, fazendo-a pensar que seu gosto musical interfere radicalmente em sua convivência com seus familiares. Serio mesmo que isso é um problema? Pois bem, vou contar uma novidade: adoro musicais da Broadway, musica instrumental, fiz aulas de coral, de teclado, piano e flauta transversal. Meu irmão adora rock, metal. Vocês sabem, tudo que seja uma baita barulheira. Eu gosto também de musicas italianas. Meus pais sempre tiveram um gosto eclético, mas nada que chegasse ao que eu curto. E, quando eu era menor, com uns 11 anos de idade, quando descobri esse meu gosto “diferente”, achei que isso era um empecilho dentro de casa. Todavia, conforme fui crescendo, entendi que nossa diversidade musical não era e nem nunca foi um problema. Eu sempre enxerguei tudo isso como bagagem e reconstrução de uma cultura que pode ser facilmente ampliada. Tá, okay, voltemos ao enredo da Mia. A adolescente tem uma melhor amiga - que até agora não entendi o que cargas d’água precisava fazer naquele livro - além de um namorado músico - rock é um estilo muito apreciado pelas pessoas - que a admira. Mas, o que mais me chamou a atenção foi o fato de que quanto mais a Mia falava sobre sua vida, seu namoro e sua futura faculdade, mais eu me perguntava o que raios a autora queria mostrar. Porque eu não via profundidade. Não via aquela coisa bem arquitetada da jornada do herói. Não via nada além de superficialidade. Porque, para ser bem honesta, eu não via problema algum em relação à adolescente, sua família, amigos e o mundo em geral. Não sei se é porque eu já sou adulta, ou se porque quando mais nova sempre fui muito questionadora para a minha idade, mas eu abomino a ideia de uma personagem “perfeita" fingindo ter qualquer tipo de problema e uma crise existencial inexistente. Outro dia mesmo, quando comentei sobre esse mesmo livro em um site de literatura, uma das pessoas comentou algo que eu não havia parado pra pensar: "A Mia é completamente egoísta com relação à sua música. Ela não gosta de compartilha-la cm ninguém.".  Mas, peraí! Quando você é músico, tendo eu as minhas experiências como tal, no começo é comum nos encontrarmos nesse mundo especial. Todavia, quando compreendemos a dimensão dessa musicalidade, sobretudo seus diferentes gêneros, acordes, tudo muda. Compreendemos o quão delicioso é misturar os ritmos e o quanto sentimos necessidade de expandir nosso universo. O verdadeiro artista, e não estou falando daquele famoso, mas aquele que vive intensamente sua arte, quer compartilhar suas emoções em pequenos fragmentos, em notas que possam ser ressoadas através do tempo e espaço. Portanto, não espere que eu considere a Mia como uma musicista, porque eu a vejo como uma garota superficial e em nada tangível de emoções. Sinceramente? Ela chega a parecer frívola. Desculpa, mas esta é a minha visão com relação à personagem.  
Não satisfeita com a experiência negativa de Se Eu Ficar,  fui então ler a bendita autora Rowell e, pelo amor de Deus, eu devia ter parado em Fangirl quando ainda tinha uma visão moderada sobre a escritora. Porque eu não sei o que acontece com essa mulher que simplesmente cria todo um cenário, na base da enrolação e, quando você acredita que a coisa toda vai engrenar, na realidade nada acontece e a história acaba. A Rowell tem ideias muito boas. Todavia, não sei se foi só comigo, mas eu tenho a impressão de que ela tem preguiça de investir nos seus próprios personagens, temendo que o livro fique grande demais. Porém, se ela enrolasse um pouco menos, ao menos se cortasse metade das páginas desnecessárias em ambas as obras que li, certamente ela daria ao seu público um gostinho diferenciado de como se constrói uma boa trama. As vezes me pergunto se a ideia dela é exclusivamente criar casais bobos, fazê-los se beijar e, quando consegue isso já se dá por cansada e satisfeita. Porque parece mesmo que de repente ela cansou de escrever e preferiu terminar a coisa toda de qualquer jeito. De verdade, eu nunca sei o que raios me fez ir até o fim com aqueles três enredos. Mentira, eu sei sim: a esperança de ver uma reviravolta. Algo que nunca acontece, se você ainda quer saber a minha opinião. 
Todavia, o que me assusta é a forma como esses jovens leitores aceitam e veneram obras tão superficiais. Como eles conseguiram gostar de personagens que nada souberam me emocionar, muito menos aprofundar um diálogo gostoso e inebriante. Porque eu tenho aprendido, mesmo que a duras penas, o quanto é complicado criar um personagem, imaginar toda a sua história de vida. Conhecer aquilo que estamos escrevendo requer tempo, paciência e, sobretudo, pequenas pitadas de psicologia, antropologia, sociologia e filosofia. O autor não escreve um personagem: ele escreve uma pessoa. E é isso que tem realmente me feito subir pelas paredes. Construir uma pessoa significa, antes de tudo, construir a si mesmo e ao seu meio. É pensar, é lembrar de coisas que um dia, lá atrás, você dizia, pensava e acreditava. É compreender que todo mundo evolui e que isso só é possível através dos grandes acontecimentos, sejam eles bons ou ruins. 

Odeio personagens vazios. Odeio ler algo que parecia ter tudo para me agradar e, no final das contas, despenca ladeira abaixo. Não suporto personagens criados de modo perfeito. Porra, eu não sou perfeita! Por que me interessaria ler sobre alguém perfeito? Não quero me sentir pior do que já me sinto todas as vezes que alguém aponta meus defeitos e recorda-me de que estou longe da perfeição. Seres perfeitos não existem! Logo, por que criar algo irreal? 


Eu não entendo como um público que está saindo da adolescência e caminhando para o mundo dos adultos, ainda prefere escapar para um enredo cheio de perfeição, quando ele mesmo sabe que a vida real não funciona dessa forma. Porque, enquanto lia essas obras, eu queria entender como as pessoas se esqueceram da profundidade das palavras, dos sentimentos, substituindo toda a gama de emoção humana por beijos e sexo. Por Deus! Cadê o desejo? Cadê o borbulhar de sensações? Cadê a vontade de conhecer a si mesmo e tudo aquilo que te atrai em alguém, ou que te dá prazer? Onde estão argumentos, opiniões e transformações? Quando um texto deixou de ser ferramenta para a criação do pensamento humano?

Um comentário

  1. Oie Bella!
    Tudo bom?
    Adorei seu texto, e incrivelmente concordo muito com tudo que você disse, apesar de ainda não ter lido nada da Rowell.
    No entanto, sobre o livro da Gayle Foreman, tenho uma ressalva. Vou explicar: o li pela primeira vez eu tinha 21 anos e sinceramente amei tudo aquilo, mas concordei com você sobre a superficialidade dos sentimentos da Mia. Via uma ligação muito forte dela com a amiga, mas não com o tal namorado, que estava ali apenas de figurante.
    E ano passou o reli, e a minha surpresa foi que o odiei com todas as minhas forças. Notei tudo isso que você descreveu no texto: como Mia era uma sortuda e desprezava tudo aquilo. Céus! Eu me questionava onde estava o cérebro daquela garota...

    E por aí vai... já li obras, sei lá se podemos chamar assim né, que tinham não sei quantas páginas de puro blá blá blá descontrolado e nada para ser transmitido. E sabemos bem que esses livros eróticos é cheio disso. Também sinto falta de uma história bem contada, com pensamentos fluentes e narrativa tocante. Espero que você já tenha lido "Twittando o Amor", porque é a coisa mais linda que existe. Precisamos de mais livros como esse.

    Bjks, da Lisse

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